25.11.09

LIMITE DE CARACTERES É CENSURA DISFARÇ

18.11.09

Geração Perdida


"O homem é condenado a ser livre", e eu optei pelo Existencialismo para iniciar. Liberdade: luto para tê-la, para então descansar sentindo o pesar de possuí-la. Escolher um entre dois só cabe a mim, o que exulto com vigor; o trilho de consequências dessa escolha, no entanto, vai tão longe, quase ao infinito, que meus olhos têm de se esforçar muito para enxergar, tanto que começam a doer. A dor da escolha, então, me toma por inteiro, me deixando imóvel, estática.
Minha geração é dos anos 80/90. Nascidos no período pós-ditaduras, pós-contracultura, pós-luta pela igualdade (entre sexo, entre cores). Distantes 30 anos da década das revoluções, não participamos das lutas que nos proporcionaram a liberdade que temos. Bom nascer em um mundo evoluído, no qual outros se encarregaram de facilitar as coisas para mim.
Mulheres queimaram seus sutiãs para que eu pudesse olhar nos olhos de homens sem me sentir diminuída, tendo a certeza de que aquilo que possuímos entre as pernas não interfere em nossos direitos; ainda que enquanto eu o faça, esteja usando sutiã. Mas e se eu quiser que direitos iguais signifique tudo isso, porém ainda desejar que abram a porta do carro para eu descer? Bom, isso seria atestar dependência quanto ao gênero masculino, e, nesse caso, não condizente com a pregação dos direitos iguais. Contudo, considerando essa situação, os direitos iguais tentdem a afastar, e não aproximar os sexos.
Para os hippies, a causa mais importante depois da paz era a luta pelo amor livre. Concomitantemente à revolução sexual, houve a construção da ideia do sexo como algo natural, belo e saudável. Alguns levaram esse ideal ao extremo, sem temer novas experimentações. Minha geração não participou disso, mas assistiu às consequências; AIDS mata. Temos em uma mão a fulgurante, charmosa e sonhadora expressão amor livre; na outra, um recorte de jornal com a manchete da morte de Cazuza.
Timothy Leary, o guru das drogas nos anos 60, fez uma linda defesa do LSD, explicitando todos os seus benefícios. As drogas passaram por um processo de despreconceitualização. Mas a Heroína arrancou Janis Joplin dos palcos cedo demais. Direta ou indiretamente relacionada com as drogas também foi a morte de Jimi Hendrix, Jim Morrison e Kurt Cobain. Os quatro se foram aos 27 anos, e, mesmo não os tendo conhecido, sinto a falta de sua presença no mundo. Queria-os aqui, dizendo que não foi a droga em si, mas o excesso dela. Queria Leary realizando novas pesquisas e ajudando a esclarecer e ensinar o uso consciente. Creio que não nos culpam pelo anseio de ver o que nos circunda de forma mais colorida e vibrante; não podem nos julgar por desejar alterar a realidade suja que nos turva os olhos a cada manhã. Ainda assim, nos oprimem à simples menção da palavra alucinógeno. Assim como a AIDS, mata.
Não sabemos pelo que optar. Amontoam-se informações em nosso banco de dados, e o excesso de conhecimento nos inibe o movimento. É pouca vida para tanta opção. Chegamos aos tempos malditos: vivemos a era da relativização! Certo e errado se miscigenam a ponto de formar uma grande substância amorfa e pastosa. Fétida. Somos obrigados a manter certa distância desses conceitos. Já não é assim tão maravilhoso ter nascido nesse mundo onde lutas foram travadas antes de mim, sem que eu pudesse escolher, me posicionar e batalhar também.
Não somos a geração da revolução, somos a geração perdida. Cometemos insanidades, somos impelidos a tanto. Queremos atenção, precisamos saber, afinal, que direção tomar... O que fizeram conosco?! Estamos perdidos... Não vejo saída e nem onde isso vai dar. Mas não consigo prever um lugar muito bonito no fim de tudo. Essa liberdade toda que possuímos para fazer nossas escolhas nos atormentam; tentamos, em contrapartida, manter uma atitude positiva. Afinal, somos jovens!, cabe a nós aproveitar a vida, usufruir daquilo que ela nos oferece; sem exageros, pois há consequências. Não... isso não passa de um confuso pensamento otimista. E quando otimismo se iguala, em minha mente perturbada, ao pessimismo - por funcionar apenas como lentes que colocamos nos olhos, mascarando a realidade - não posso permitir essa visão distorcida, que engana. Quero ver as coisas e entendê-las como de fato são. Manuel fartou-se de lirismo que não fosse libertação; eu também estou farta, mas de liberdade que não tem acorrentada a si a verdade.

5.11.09

SINESTESIA - As minhas e as tuas memórias


I. Eu queria rever meus amigos. O tempo da minha juventude, por algum motivo que no momento ignoro, não sai da minha cabeça... Eram bons dias aqueles em que corríamos juntos por aí, feito loucos que nada devem a ninguém. Não sei, deve ser a chuva. O dia está nublado e tudo ao meu redor cheira à nostalgia. Inclusive o perfume dela... Pude jurar que senti sua fragrância no ar.
Que merda!, fico melancólico nesses dias. Creio que seja porque não sinto vontade de sair de casa e o ócio me deixa muito pensativo. E a máxima de Descartes não se aplica a mim, definitivamente. "Cogito ergo sum"... Quanto mais eu penso, mais louco fico e quase deixo de existir - ao menos nesse mundo aqui. Lucidez excessiva não faz bem... Enxergar as coisas em demasia e se questionar constantemente pode ser muito perturbador. Eu fico me perguntando se a vida é só isso mesmo, ou se tem algo a mais a descobrir. Só quando escuto minhas músicas e leio meus autores preferidos meu coração parece serenar. O que sinto então é tão grandiosamente intenso que eu tenho que acreditar na vida - ainda que de maneira levemente cética. Mas agora não me sinto assim.
Não posso procurar meus amigos hoje... hoje não posso. Se fosse há alguns anos, eu provavelmente passaria a tarde lendo Jack Kerouac, cerrando as páginas do livro toda vem em que ficasse boquiaberta com as palavras do meu querido beatnik. Oh, companheiros de minha juventude... Sem dúvidas, não posso revê-los agora.
Se eu fecho os meus olhos e me concentro, quase posso sentir o toque dos teus lábios nos meus...

1.11.09

O muro é alto



"Caso alguém tenha problemas com cigarro, alertamos para que escolham assentos mais afastados do palco, pois as atrizes fumam em cena". A fala é real e nem faz parte do teatro, mas já nos deixa imaginativos para o que veremos. Quero dizer, Nelson Rodrigues punha a mãe com tesão pelo filho, e o irmão querendo comer a irmã no mesmo palco, mas a incomodação se abstinha ao plano psicológico. "Para F.K" já começa prometendo mais.
O início é suave: violão, luz fraca. Quatro mulheres e um músico. "Músico" já explica tanta coisa, que o termo se faz preferível ao simples "homem". Quanto às mulheres, alta, loira, crespa e pequena é tão raso quanto a gota que sobrou no copo. A pequena é romântica; tão possuída pelo desejo de amar que se recitasse Florbela Espanca - "eu quero amar, amar perdidamente!/Amar só por amar: Aqui... Além..." -, as palavras pareceriam suas. A alta? Dama da noite é como a chamam. Bebe para ofuscar sua lucidez, sua consciência a respeito da vida que não lhe deixa jamais, pois possui o olhar de quem vê de fora, fora da roda... Quem enxerga tanto jamais dorme; fica assim, com a feição cansada, exausta. Ela gostaria de ser acalentada pelo abraço da outra, com seus cachos abundantes a lhe acariciar a face. Doce... tão doce! Sua falinha mansa, cheia de dengo... que de repente se vai e explode!!, pela falta do toque dele. Não do músico, do homem.
Loira - gorda, burra e feliz, ela diria. Feliz? Pode ser. Acredito que a melancolia possa ser feliz mesmo. Bom, reconfortante ao menos. Linda, sem dúvidas; chega por trás e a envolve, a põe louca, enraivecida, nostálgica. E ele nem foi embora ainda. É como disse a pequena, "dias frios te deixam mais lento, mais bonito"; a melancolia também é um dia frio... põe lágrimas na face... mechas loiras tentam escondê-las.
Todos os corações, com suas peculiaridades femininas, o querem. Seja porque gostam muito, porque ele não liga há tempos, porque ele cresceu demais, ou porque é apenas um garotão inocente. E DAÍ?!! Que vá embora! Mas a perspectiva do não-retorno as amendronta tanto que as prende em si mesmas. Para sempre, pois a peça termina deixando o infinito todo para que cada uma delas o percorra em trilhos de dor; no deserto, sem bichos, água ou árvores. Nada. Apenas um muro alto, ainda intransponível.
A luz volta e incide no meu olho a realidade. Há aplausos, porém os meus são automáticos. Não tenho vontade de ovacionar, por mais fantástica que tenha sido a atuação. Aliás, é justamente esse fato que bloqueou meus movimentos. A alta, a loira, a crespa e a pequena me arrastaram e me acorrentaram no seu mundo que bebe, fuma, grita e sente. Ao sair do teatro com os fones no ouvido, Bob Dylan me adivinha... "How does it feel? To be on your own, with no direction home..." Para aqueles que têm problemas com cigarro, lugares afastados do palco bastam; aos que acreditam que "sentir é melhor maneira de viajar/Sentir tudo de todas as maneiras/Sentir excessivamente...", apenas do outro lado da porta é seguro
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