18.11.09

Geração Perdida


"O homem é condenado a ser livre", e eu optei pelo Existencialismo para iniciar. Liberdade: luto para tê-la, para então descansar sentindo o pesar de possuí-la. Escolher um entre dois só cabe a mim, o que exulto com vigor; o trilho de consequências dessa escolha, no entanto, vai tão longe, quase ao infinito, que meus olhos têm de se esforçar muito para enxergar, tanto que começam a doer. A dor da escolha, então, me toma por inteiro, me deixando imóvel, estática.
Minha geração é dos anos 80/90. Nascidos no período pós-ditaduras, pós-contracultura, pós-luta pela igualdade (entre sexo, entre cores). Distantes 30 anos da década das revoluções, não participamos das lutas que nos proporcionaram a liberdade que temos. Bom nascer em um mundo evoluído, no qual outros se encarregaram de facilitar as coisas para mim.
Mulheres queimaram seus sutiãs para que eu pudesse olhar nos olhos de homens sem me sentir diminuída, tendo a certeza de que aquilo que possuímos entre as pernas não interfere em nossos direitos; ainda que enquanto eu o faça, esteja usando sutiã. Mas e se eu quiser que direitos iguais signifique tudo isso, porém ainda desejar que abram a porta do carro para eu descer? Bom, isso seria atestar dependência quanto ao gênero masculino, e, nesse caso, não condizente com a pregação dos direitos iguais. Contudo, considerando essa situação, os direitos iguais tentdem a afastar, e não aproximar os sexos.
Para os hippies, a causa mais importante depois da paz era a luta pelo amor livre. Concomitantemente à revolução sexual, houve a construção da ideia do sexo como algo natural, belo e saudável. Alguns levaram esse ideal ao extremo, sem temer novas experimentações. Minha geração não participou disso, mas assistiu às consequências; AIDS mata. Temos em uma mão a fulgurante, charmosa e sonhadora expressão amor livre; na outra, um recorte de jornal com a manchete da morte de Cazuza.
Timothy Leary, o guru das drogas nos anos 60, fez uma linda defesa do LSD, explicitando todos os seus benefícios. As drogas passaram por um processo de despreconceitualização. Mas a Heroína arrancou Janis Joplin dos palcos cedo demais. Direta ou indiretamente relacionada com as drogas também foi a morte de Jimi Hendrix, Jim Morrison e Kurt Cobain. Os quatro se foram aos 27 anos, e, mesmo não os tendo conhecido, sinto a falta de sua presença no mundo. Queria-os aqui, dizendo que não foi a droga em si, mas o excesso dela. Queria Leary realizando novas pesquisas e ajudando a esclarecer e ensinar o uso consciente. Creio que não nos culpam pelo anseio de ver o que nos circunda de forma mais colorida e vibrante; não podem nos julgar por desejar alterar a realidade suja que nos turva os olhos a cada manhã. Ainda assim, nos oprimem à simples menção da palavra alucinógeno. Assim como a AIDS, mata.
Não sabemos pelo que optar. Amontoam-se informações em nosso banco de dados, e o excesso de conhecimento nos inibe o movimento. É pouca vida para tanta opção. Chegamos aos tempos malditos: vivemos a era da relativização! Certo e errado se miscigenam a ponto de formar uma grande substância amorfa e pastosa. Fétida. Somos obrigados a manter certa distância desses conceitos. Já não é assim tão maravilhoso ter nascido nesse mundo onde lutas foram travadas antes de mim, sem que eu pudesse escolher, me posicionar e batalhar também.
Não somos a geração da revolução, somos a geração perdida. Cometemos insanidades, somos impelidos a tanto. Queremos atenção, precisamos saber, afinal, que direção tomar... O que fizeram conosco?! Estamos perdidos... Não vejo saída e nem onde isso vai dar. Mas não consigo prever um lugar muito bonito no fim de tudo. Essa liberdade toda que possuímos para fazer nossas escolhas nos atormentam; tentamos, em contrapartida, manter uma atitude positiva. Afinal, somos jovens!, cabe a nós aproveitar a vida, usufruir daquilo que ela nos oferece; sem exageros, pois há consequências. Não... isso não passa de um confuso pensamento otimista. E quando otimismo se iguala, em minha mente perturbada, ao pessimismo - por funcionar apenas como lentes que colocamos nos olhos, mascarando a realidade - não posso permitir essa visão distorcida, que engana. Quero ver as coisas e entendê-las como de fato são. Manuel fartou-se de lirismo que não fosse libertação; eu também estou farta, mas de liberdade que não tem acorrentada a si a verdade.

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