29.9.09

Come gather 'round people



Lembro de ter esnobado toda aquela euforia em função de o Obama ter sido eleito. Claro que eu estava contente - quem não estaria com a saída do Bush? Mas eu tinha dentro de mim a convicção de que isso não deveria ser tão aclamado, e sim tratado com mais naturalidade. Esse destaque, essa enfatização do fato de ele ser negro, fez parecer que foi algo muito fora do comum a sua eleição. Quando não deveria ser! Era apenas um homem competente, com boas ideias e potencial - se ele fosse verde, ainda assim não perderia essas qualidades. Enfim, proclamar essa minha opinião poderia ser forçar a barra - o que não me impediu de dizê-la por aí para quem quisesse ouvir. Talvez, contudo, eu só pense assim porque para mim isso soa como um acontecimento natural. Mas para outras pessoas, está longe disso. E então isso tudo deve ser muito exultado e comemorado mesmo, para fazer com que essas pessoas acordem e se deem conta de que as coisas estão mudando, progredindo - que elas tomem parte nisso também, começando a se naturalizar com esses fatos. O Bob Dylan comemorou a vitória do Obama em um show, que fazia no dia da decisão; ele devia se lembrar de quando, enquanto cantava 'for the times, they are a-changing', em 64, os negros conquistavam o direito de poder frequentar os mesmos lugares públicos que brancos, com o Ato de Direitos Civis. Sem desprezar, ou soltar fogos de artifício, canto apenas, então, calma e esperançosa, 'and the first one now, will later be last/for the times, they are a-changing'.
Perguntaram o que eu pensava a respeito de Zelaya. Minha mente começou a viajar, vi na minha frente o mapa daquele país centro-americano, a cara bigoduda do presidente e as mulheres com fitas no rosto em forma de xis, reclamando liberdade de imprensa. E as mulheres me fizeram lembrar dela. Ela havia dito que me amava. Tá certo que tinha sido depois de uma transa intensa, mas eu senti que era sincero. Vi nos seus olhos. A boca pode mentir, os olhos não. Nunca haviam me amado antes. Ou talvez sim, mas ninguém me deixou ter conhecimento disso. E foi tão bonito o modo como ela disse. Foi como se essa fosse a única verdade no mundo. E eu acreditei. Então lembrei do Kerouac e de como ele dissera uma vez que ninguém mais acredita no amor, e que o amor é a grande mensagem, o puro significado da vida. Ele estava certo. E ela também.
Ah, o Zelaya. Que se dane.

20.9.09

"Despe-te, despe- te/Quanto mais nu, mais tu"




Elas ouviam o blues; escutavam os gemidos da guitarra e se excitavam em cada distorção. O piano as punha loucas... Os dedos ágeis mal se deixando visualizar. Libertas, finalmente libertas. Cada grade da prisão que as confinava ia ao chão, uma a uma - assim como suas roupas. Libertinas. Vestir-se só tinha utilidade para os pudicos, para os puritanos e para os não-dançarinos. Seus corpos se ondulavam e suas mentes giravam. Enquanto isso, a água fazia seu papel e as banhava, inundando de frescor seus cabelos. A nudez interligava tudo que fosse puro, como elas. Conectava tudo que fosse Renoir. Sem más impressões, apenas impressionismo. Nu.

16.9.09




O livro é um relato jornalístico do assassinato de uma família do Kansas. Intercalando "cenas" da família e dos assassinos, Capote vai dirigindo a narrativa para o seu ápice, seu clímax, que se dá no momento em que uma amiga da família encontra o corpo de Nancy, filha dos Clutter.
As palavras são pensadas e posicionadas em frases construídas com o propósito de "dar vida" a essa terrível história - o que poderia parecer contraditório, não fossem inumeráveis os casos de notícias relatadas como anúncios de publicidade; os fatos pelos fatos. No entanto, o acontecimento apenas exposto na mídia seria rapidamente esquecido. Um assassinato, por mais pérfido que seja, não choca as pessoas por muito tempo; torna-se parte do cotidiano ouvir esse tipo de crime em noticiários. Capote, miscigenando apuro jornalístico, sensibilidade e uma alma literária, encontrou a forma correta de eternizar essa crueldade transformada em livro em 1966. Ele viveu a história que contou ao mundo, envolveu-se com a matéria, foi a fundo naquilo, quebrando a barreira das reportagens convencionais. E isso se chama Novo Jornalismo, apesar de Capote afirmar sua obra como sendo apenas um romance não-ficcional.
De fato, não há ficção; há apenas a realidade - tal como é, penetrante, infeliz e inesquecível. Que fossem relatadas assim todas as injustiças que nos rodeiam, de forma que as imagens colassem em nossas retinas e não nos deixassem dormir - dessa maneira, seríamos obrigados a agir para que pudéssemos serenar novamente. É esse o jornalismo de verdade, o jornalismo que eu busco: aquele que não apenas relata o passado, mas incita a mudança no futuro.

15.9.09

Era o quinto dia consecutivo de chuva intermitente, e Augusto mexia vagarosamente o seu café. A colher andava em círculos, mas isso não representava nada; apenas uma colher, apenas mais um dia nublado. A ausência do sol não diminuía o brilho dos acontecimentos.

O nome completo – o seu nome! –, ali, na lista do vestibular, nunca parecera tão bonito. Augusto Abbott – História. Sua paixão sempre foram os livros repletos de datas e fatos, e seus ídolos iam de Júlio César a Martin Luther King. Aqueles caras haviam feito a diferença, e agora chegara a sua oportunidade de fazê-lo.

Ao contrário do que alguns poderiam pensar, Augusto não estava preso ao passado; conhecia seus detalhes e fazia uso disso para guiar seus passos no presente. "A História pertence ao ontem; eu, ao hoje" - era o que sempre dizia. Sentia o calor de todas as possibilidades que lhe rodeavam, sentia o calor de todos os tempos, sentia o calor da vida lhe envolver. Tinha o olhar sonhador. Seu café havia esfriado, mas sua mente estava fervendo.

11.9.09

Do grego syn (união, junção) - aisthesis (percepção)

A explosão de sons rapidamente se transforma em cores vibrantes... Cade cheiro dessas cores e sons toca meu corpo em todas as partes possíveis. Sopros de volúpia trepidantes fazem meu corpo fremitante emitir, através de ondas, palavras libidinosas, que se organizam em frases completas de prazer absoluto. Gozo musical! Os acordes me penetram...

5.9.09


Tenho o coração no ouvido
E ele vibra a cada acorde
Sejam tons graves ou agudos
Como um trovão, bate forte

Se tu me queres, toca alto
Até que meu coração
- Apaixonado e tão leve -
Ao meu peito volte então

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