12.7.09

A companheira

Não me apresente à tristeza
Conheço-a desde o nascer dos dias
Enquanto espiava as rodas
De crianças a brincar
Já nesse tempo a melancolia – doce e lancinante
Vestida de fada madrinha
Espreitava-me com ares de cobiça.

As primaveras seguintes trocaram seu traje
Era o vento a me abraçar
A bater na cara sem piedade
Sem receios de lacerar a minha face
Agora sulcada, antes...
Como era?
Os sons ao redor – folhas farfalhantes! – me confundem

No entanto, lembro bem do cheiro
Ah!... a fumaça que pairava no ar
Sufocava ao ver mentes entorpecidas e quietas
Quando minha alma parecia ser a única
Que se agitava, delirante
Por entre toda a bruma
Tinha certeza de que não podiam ver, que dirá sentir.

Em breves momentos de regozijo
Agradecia por poder respirar
E, adolescentemente, punha-me a dispor dos dias.
Era afirmado louco
Com os plátanos outonais
A denunciar passos ébrios
De um misantropo

Já éramos muito próximos então
Ouvíamos juntos os blues
E, vez ou outra, ela arriscou mudar meu curso
E o de minhas lágrimas
Mas quis – desesperadamente – romper nosso laço
O qual descobri demasiadamente sólido
E não havia mais brios para lhe contrariar.

Livrar-me de suas artimanhas...
Sonho acalentado!
Nas noites frias de inverno
Foi a bengala desse velho já pusilânime
Abismal! No breve momento em que aqui me deixou
Foi por castigo – ria do topo a me observar
E agora, sua fantasia final

Ó, flamejante melancolia!
És o verme, minha eterna companhia.

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