4.8.09

Poesia, velas e vinho

Tinha as unhas de preto pintadas
Em luto por mais uma morte em sua vida
A espontaneidade, os pais, esperanças aladas
E agora ele
Deixando sua existência mais mórbida ainda

Fechou os botões da capa cinza
Que tentava afastar de seu corpo o frio congelante
"é o inverno mais rigoroso dos últimos anos"
Era o que anunciava o vendedor de jornais ambulante
Mas não era o tempo, e sim seu coração que estava gélido

A maçaneta da porta girou sob sua mão
E o ar que lhe chegou aos pulmões era quente
Havia muitas pessoas ali
Pedindo bebidas no balcão
Mas foi a solidão a única que lhe cortejou naquele ambiente

Tirou de sua bolsa o livro de poemas
Precisava de Vincent Millay e de seu conforto lírico que acalma
"Only until this cigarette is ended..."
Acendeu um cigarro, e a cada baforada
Expelia para longe a fumaça, como se fosse um fragmento de sua alma

A parca iluminação configurava um sombrio ar
Mas não era necessária muita luz
A quietude do lugar e dos que ali estavam
Era constrangedora demais para se mostrar
E as poucas velas eram suficientes para as sombras que desejavam dançar

Na mesma cadeira de sempre se acomoda
Pois as mudanças jamais atravessam as velhas portas duplas
E ali seu amor defunto hiberna
Enquanto entorna um copo de vinho atrás do outro
Sentada no canto ermo da escura taverna

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores